29 de setembro de 2011


A égide perfeita


Na mitologia grega a égide era considerada o escudo mágico que Zeus utilizou em sua luta contra os titãs, e que lhe sustentava defesa pessoal. Aliado a força e ao amparo de seu brasão, o Deus grego soube proteger ideologias e pensamentos, assim como a memória histórica de seu povo.

Nas mãos dos centauros engravatados da terra dos tupiniquins, a proteção mitológica tomou novos rumos e conceitos, e infelizmente, praticamente irreversíveis. As quimeras daqui não soltam fogo pelas narinas, mas por outro lado, continuam revestidos com a pele de cordeiro e com coração de leão.   O galope avassalador da pitonisa da corrupção conduz consigo a égide perfeita dos poderes públicos.

A mesma criatividade que os gregos tinham de dar explicações para quase tudo também foi adaptada e usada pelo congresso secreto dos mascarados. A última peça pregada no oráculo do Conselho de Ética Nacional traduz bem o sentimento nefasto de nossos representantes. O Aquiles Valdemar Costa Neto, aquele que um dia encabeçou o famoso escândalo do Mensalão, simplesmente foi absolvido pela suntuosa Corte dos Minotauros.

Quem não recorda que há poucos dias a Medusa Roriz também passou facilmente pelo crivo do Monte Olimpo. O que seria de um pobre mortal caso fosse pego e filmado embolsando dinheiro público? Certamente estaria condenado a ingressar na arena central do Coliseu. Comprovação e receptação de propina simplesmente não abalão os alicerces da barbárie, desde que a divindade esteja provida por qualquer assento parlamentar, ou refugiada na cortina do voto secreto.

A tragédia grega da desordem e do regresso só não é maior graças aos espetáculos do pão e circo, ou pior, dos programas sociais e do nebuloso meio futebolístico. Afinal de contas, temos uma Copa do Mundo e uma Olímpiada pela frente. Acho que dá para matar a fome dos súditos por mais algumas eras, principalmente se o doutor Lula Zeus honoris causa voltar ao reinado. 

Por Pedro Niácome

4 comentários:

  1. Caro amigo!

    A sensibilidade de tua escrita aliada a crítica afiada a um quadro político alarmante no qual vivemos se revelou uma diversão sem conta. Ler textos como esses promovem o "domingo da língua portuguesa". Nem eu, com toda minha formação helenística, teria uma ideia tão genial de mesclar análise política com mitologia! Realmente, fantástico.

    Faço minhas tuas palavras. Hoje, diferente da Grécia onde o herói solitário enfrentava o mal, derrotar e restaurar o Monte Brasília Olimpo, requer a luta e o eco de um povo calejado pelas infâmias e dissabores. É hora de sermos heróis de nosso destino histórico e fazer como o povo grego: deixar nossas vitórias escritas nas estrelas!

    De seu amigo admirador
    Marco Lima

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  2. Soraia Diniz - JP

    Adorei o texto Pedro...o mito da realidade brasileira!!!

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  3. Carlos Breno Duarte (CG) A mitologia grega bem representada por nossos representantes>>>>>> Minha esperança é q um dia possamos trazer essa égide para o nosso lado!!!!!!! Parabéns pela crônica Peter!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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