A égide perfeita
Na mitologia grega a égide era considerada o escudo mágico que Zeus utilizou em sua luta contra os titãs, e que lhe sustentava defesa pessoal. Aliado a força e ao amparo de seu brasão, o Deus grego soube proteger ideologias e pensamentos, assim como a memória histórica de seu povo.
Nas mãos dos centauros engravatados da terra dos tupiniquins, a proteção mitológica tomou novos rumos e conceitos, e infelizmente, praticamente irreversíveis. As quimeras daqui não soltam fogo pelas narinas, mas por outro lado, continuam revestidos com a pele de cordeiro e com coração de leão. O galope avassalador da pitonisa da corrupção conduz consigo a égide perfeita dos poderes públicos.
A mesma criatividade que os gregos tinham de dar explicações para quase tudo também foi adaptada e usada pelo congresso secreto dos mascarados. A última peça pregada no oráculo do Conselho de Ética Nacional traduz bem o sentimento nefasto de nossos representantes. O Aquiles Valdemar Costa Neto, aquele que um dia encabeçou o famoso escândalo do Mensalão, simplesmente foi absolvido pela suntuosa Corte dos Minotauros.
Quem não recorda que há poucos dias a Medusa Roriz também passou facilmente pelo crivo do Monte Olimpo. O que seria de um pobre mortal caso fosse pego e filmado embolsando dinheiro público? Certamente estaria condenado a ingressar na arena central do Coliseu. Comprovação e receptação de propina simplesmente não abalão os alicerces da barbárie, desde que a divindade esteja provida por qualquer assento parlamentar, ou refugiada na cortina do voto secreto.
A tragédia grega da desordem e do regresso só não é maior graças aos espetáculos do pão e circo, ou pior, dos programas sociais e do nebuloso meio futebolístico. Afinal de contas, temos uma Copa do Mundo e uma Olímpiada pela frente. Acho que dá para matar a fome dos súditos por mais algumas eras, principalmente se o doutor Lula Zeus honoris causa voltar ao reinado.
Por Pedro Niácome