17 de agosto de 2011

O Universo de cada um


O ser humano detesta fazer mudanças. Prefere empurrar a vida com a barriga até chegar ao extremo. Faz de sua zona de conforto seu orbe perfeito. Todavia, é cada vez mais comum acompanhar notícias de pessoas que chutaram o balde, deram um basta e mudaram de vida drasticamente. Alguns vislumbram transformações buscando um novo trabalho. Outros saem viajando pelo mundo, mudam de cidade, trocam a vida agitada por um estilo de vida mais pacato.
Os destemidos em sua maioria são chamados de loucos, alucinados. São também questionados sobre o seu futuro. Os olhares de preocupação e julgamento ficam escancarados. Do que vai viver? Para onde vai? Você tem regras a seguir, padrões a atingir, metas claras. Além disso, pertencer a um grupo e nele ser reconhecido gera uma sensação de existência. Gera um prazer. Simplesmente faz parte do bando e não se enxerga fora desse universo.
Quando você anuncia que precisa se redescobrir, sentir a vida, repensar o seu caminho e viver seu cotidiano de forma diferente, na prática, o glamour de uma mudança radical desaparece. Aliás, abandonar velhos hábitos é um dos maiores desafios, se não o maior. As pessoas não conseguem aceitar com tranquilidade o incerto e, muito menos, aceitar o diferente. 
A grande massa foi ensinada e programada a viver em gaiolas. Você tem liberdade para voar, desde que não transgrida as fronteiras de seu habitat. O meio em nasce e as pessoas que compõe o seu entorno já criam as expectativas e estabelecem os parâmetros razoavelmente sensatos para sua vida.
Quantas pessoas chegam à determinada idade e pensam que não há mais tempo ou cabeça para os estudos, para a realização de novos projetos, amizades, lugares, enfim, um espaço infinito de realizações.  Se os humanos aprendem desde cedo a carregar, impetuosamente, a essência da curiosidade, por que não sequenciam a prática do autoconhecimento à medida que amadurem? 
Talvez a falta de estímulo e as convivências possam explicar tamanhas digressões. Quando decide levantar a bandeira de que é possível fazer diferente, o sistema em peso vem para cima de você, principalmente no nosso país. Evidentemente que não se pode generalizar, mas é assim que funcionam os partidos políticos, os clubes de futebol, as crenças religiosas e por aí em diante.  
Somente a partir do desarraigamento, com as experiências de vida e questionamentos, um novo olhar para o mundo surgirá. É como apreciar a beleza de um jardim, sem que haja a necessidade de se imaginar a existência de fadas. 
É tudo uma questão de ponto de vista. Afinal, o que é radical para uns, não é para outros. E se cada um é um ser único, porque todos temos que levar a mesma vida, no mesmo cubículo? Independentemente do tamanho de seu mundo, é indispensável que cada pessoa saiba vivenciar suas potencialidades. Uma cabriola enriquecedora, prazerosa, repleta de surpresas. Depois destas contemplações, fica bem mais fácil conhecer o que está do lado de fora.

Por Pedro Niácome

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