Eu quero é aula vaga...
Estava na fila de um supermercado na manhã de hoje, era por volta das 9 horas, quando me deparei com a conversa entre três jovens estudantes da rede pública municipal comentando sobre
a qualidade do ensino na escola em que eles frequentam. Todos aparentavam ter a
média de idade entre 10 e 12 anos, quando então o mais franzino falou que o seu maior desejo era estudar em uma escola que não tivesse aula vaga.
A reação de repúdio dos outros foi imediata. “Você ta de brincadeira guri, eu quero é aula vaga. Além do mais, os professores não dão uma aula que preste mesmo!”, pontuou um dos jovens, comemorando ainda as outras oito aulas vagas para o restante da semana.
A reação de repúdio dos outros foi imediata. “Você ta de brincadeira guri, eu quero é aula vaga. Além do mais, os professores não dão uma aula que preste mesmo!”, pontuou um dos jovens, comemorando ainda as outras oito aulas vagas para o restante da semana.
Voltei para casa inquieto com o triálogo. O que é pior, a aula vaga ou de má qualidade? Qual a
perspectiva de futuro desses jovens?
Em meio a um dilema que se estende praticamente
a nível nacional, vejo o caso como um grande desafio para os legisladores,
claro, que não impossível de se resolver. As aulas do professor que falta muito costumam ser
ainda piores do que as aulas ruins de professores que faltam menos. Se falta continuidade na sequência pedagógica, também fica
difícil a avaliação do que o aluno aprendeu. O professor que falta muito não
consegue manter a continuidade e precisa voltar aos assuntos mais vezes. A
avaliação também é mais difícil, pois o que o aluno aprende hoje se esquece com
extrema rapidez, isso se houver tempo hábil para revisão.
Em
dezembro do ano passado a Folha de São Paulo publicou uma análise do professor Naercio Aquino, sobre escolas particulares com
mensalidades mais econômicas, porém, em média, com infraestrutura precária, pior
do que as públicas. Por que então os alunos de tais escolas particulares
apresentam desempenho melhor que os da rede pública? A resposta está no
fenômeno da 'aula vaga', que praticamente não existe na rede particular, mesmo
nas piores escolas, pois quando os professores faltam são substituídos com
eficácia ou dependendo da circunstância podem até ser demitidos, enquanto na
rede pública há o predomínio da cortina de fumaça.
O grande problema das aulas vagas nas
escolas públicas é proveniente de um sistema acéfalo. O começo para promover
uma mudança na legislação talvez seja o primeiro passo, somado a uma gama de
investimentos na área educacional.
Pedro Niácome